sábado, 28 de fevereiro de 2009

Tua voz
Pelo sentido das palavras
Seca a mudez da minha língua
A nudez do meu corpo
E me acha

Tua voz
Procura abrir uma fresta no sentido
Abrir o sentido como se fosse uma porta

Tua voz
É a mais impossível das coisas
Um corpo sem corpo
Uma força sem força

Língua, dentes , lábios, mãos e braços
Impossível a fuga deste abraço
Do toque mínimo
Do beijo invisível no ar que vibra

O que me segura me engana
O que acontece comigo
Pipoca em tua íris
Feito criança a brincar na grama

Não há tempo para lembrança

De tão urgente que tua voz escapa entre os dentes
O presente descansa

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Procura da palavra


"Minha mente mesclou-se ao meu estômago, tudo girava e a ânsia de vômito era insuportável. A mais indizível tristeza tomou conta de mim e desatei a chorar. Soluçava e chorava. Às vezes parecia que ia vomitar. Mais patético ainda foi ver aquele homem dando-me um fraterno abraço e pedindo para que eu me acalmasse.
- Calma, amigo, você é um grande caçador. As mulheres vão gostar de você, você vai ver.
Eu não conseguia falar. Podia ser até que o sujeito houvesse colocado algo em minha cerveja. Queria falar, mas minha língua enrolava.
- Calma, você vai sair com a garçonete.
Repetia, abraçando-me como se eu fora um menino contrariado.
Aquilo em tomou de raiva. Eu tentava bater em sua cara, mas não coordenava os movimentos.
- Calma, o homem caçador do impossível que se sente tão só que perde a visão panorâmica e fica encurralado em si mesmo, ou tenta machucar alguém ou....ou.....ou.....
Enquanto dizia repetidamente “ou”, segurou-me com força de modo que não pude mais mexer um músculo. Fiquei ouvindo aquele “ou” por um tempo até que, vencido, fiz a pergunta que imaginei que ele queria ouvir...
- Ou, o quê?
- Ou corre para os braços de Deus. "
Fragmento do livro " Meu encontro com Cataneda no Deserto do Arizona"